Golpe é realizado a partir de dados vazados de beneficiários e a partir dos documentos disponíveis dos advogados no aplicativo do Meu INSS.
Em mais uma onda de fraudes nos benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) , criminosos agora estão mirando em registros profissionais de advogados para conseguir cometer os golpes dentro do aplicativo ou site do “Meu INSS”.
Pela plataforma do “Meu INSS”, os beneficiários conseguem acessar seus dados e serviços relacionados aos benefícios recebidos.
O novo golpe consiste em acessar essa conta e depois modificar a conta bancária de recebimento do benefício, assim o criminoso passa a receber o valor do INSS diretamente em alguma conta indicada de seu domínio.
Para conseguir realizar a fraude, os golpistas primeiro buscam dados dos usuários e senhas do aplicativo por meio de algum vazamento de dados. Depois, ao entrar no sistema, se passando pela vítima, eles conseguem alterar a conta.
Para modificar a conta, é necessário anexar uma cópia de um documento do titular do benefício, mas nem sempre é verificado, o que permitiu que estes criminosos encontrassem uma “brecha” no sistema, subindo documentos falsos e alterando as contas.
E os documentos utilizados para solicitar a alteração de contas estão sendo dos advogados brasileiros.
Segundo advogados ouvidos pelo g1, os criminosos conseguem acesso a carteiras da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) por meio do próprio sistema 'Meu INSS'. Processos relacionados a pedidos de benefícios do INSS ficam dentro desse sistema, mas, em teoria, só as partes de um processo podem ter acesso a ele.
Dentro dos processos, ficam anexados os documentos dos advogados. Os criminosos estão conseguindo acessar esses processos para roubar os documentos e utilizá-los de forma fraudulenta. Portanto, na hora de solicitar a alteração da conta bancária de um segurado, o criminoso coloca em anexo o documento de um advogado como se fosse o documento do próprio beneficiário.
Mesmo não sendo correspondente ao nome do beneficiário, o sistema do INSS aceita a documentação e permite a mudança de conta. "O robô que analisa isso não faz o serviço corretamente", explica a advogada vítima da fraude, Fernanda Angeli.
Entenda o caso
A advogada previdenciária Fernanda Angeli é uma das vítimas deste novo golpe. Ela teve conhecimento de pelo menos três vezes em que criminosos utilizaram o documento profissional dela para fraudar benefícios.
"Recebi mensagens no WhatsApp do meu escritório de uma pessoa na Bahia falando que meu documento estava sendo usado no 'Meu INSS' dele para alterar o banco de pagamento", conta a advogada que mora em Piracicaba, no interior de São Paulo.
Essa pessoa era Carlos Henrique Deiro, aposentado, que reside em Lauro de Freitas, região metropolitana da capital baiana.
"Todo mês eu olho minha aposentadoria. Estava tentando entrar no ‘Meu INSS’ e não estava conseguindo. Tive que alterar minha senha para conseguir entrar e vi que tinham alterado meus dados e o meu banco de pagamento", afirma o aposentado.
Ele, então, viu que o documento anexado como sendo dele próprio fazendo a solicitação da alteração de conta bancária era, na verdade, o documento de Fernanda.
Essa não foi a primeira vez que o aposentado Carlos Henrique Deiro sofreu uma tentativa de fraude em que criminosos pediram mudança da conta bancária para receber o benefício em nome dele. Foram, ao todo, três tentativas de fraude na aposentadoria dele entre outubro do ano passado e abril deste ano.
Em cada tentativa, os criminosos utilizaram o documento de um advogado diferente. Além disso, pediram a alteração para contas bancárias em estados diferentes: Minas Gerais, Pernambuco e Paraíba.
"É um sentimento de revolta. O atendimento do INSS é péssimo, é um descaso. Da primeira vez, o atendente me falou que eu tinha que ir até o banco que o fraudador cadastrou, em Minas Gerais, para resolver. Como eu vou fazer isso? Eu moro na Bahia", desabafa.
Nas duas primeiras vezes, o aposentado conseguiu resolver o problema em agências bancárias na cidade onde vive. A terceira tentativa de fraude é recente e ainda não foi resolvida. “Perco o dia todo dentro de uma agência”, diz o aposentado, que afirma que o INSS pede para ele resolver diretamente com os bancos, pois nada pode fazer para ajudá-lo.
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